Mobilidade familiar e contexto escolar – o olhar dos educadores escolares angolanos

Family mobility and school context. The look of angoleños school educators

  • Marzia Grassi Instituto de Ciencias Sociales de la Universidad de Lisboa. Investigador auxiliar

    PhD Develpment Economics. Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, Investigadora auxiliar ICSULisboa, avenida Professor Aníbal Bettencourt, 9 - 1600-189, Lisboa (Portugal), mgb1235@gmail.com

  • Luena Marinho Instituto de Ciencias Sociales de la Universidad de Lisboa. Investigador auxiliar

    PhD Ciencias Sociales. Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, Investigadora, avenida Professor
    Aníbal Bettencourt, 9 - 1600-189, Lisboa (Portugal), luena.marinho @gmail.com

Palabras clave: (en) Mobility, family, Angola, children, youth, education
Palabras clave: (pt) Mobilidade, família, Angola, crianças/jovens, educação

A mobilidade humana produz mudanças nas diversas esferas da vida dos indivíduos incluindo as suas relações familiares à distância. Novas formas de manter a ligação entre membros da mesma família dão origem a modos diferenciados de conjugalidade, parentalidade e cuidados aos membros mais vulneráveis como as crianças. A partir de entrevistas realizadas em Angola, junto de profissionais da educação, nomeadamente professores e diretores de escolas, este artigo procura destacar as representações desses profissionais sobre os efeitos da distância geográfica entre pais e crianças/jovens/alunos.

Será realçado os impactos da separação dos pais é das crianças em termos de aproveitamento escolar e educação. A análise das entrevistas argumentadas por género e categoria social dos alunos revela as representações sociais dos educadores escolares sobre as dinâmicas familiares e os seus efeitos na educação escolar das crianças e devolve-nos uma imagem da cultura organizacional da família à distância e da educação na Angola contemporânea que parece considerar a mobilidade humana maioritariamente nas suas consequências negativas para a educação das crianças. As entrevistas fazem parte de um conjunto de dados originais recolhidos junto de observadores privilegiados do grupo alvo de um projeto do ICS-UL (Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa) no contexto migratório Portugal/Angola, sobre cuidados transnacionais a crianças.

Human mobility has implications on several spheres of individuals' lives and their relations at a distance. The new ways of maintaining a link between family members create different types of conjugality, parenting and care for the most vulnerable members such as children. Grounded in interviews with students in Angola, with education professionals – professors, school management, and others, this article aims to access the social representations of these professionals regarding the impact in their students of geographical distance between parents and children/students.

The impact in terms of school achievement and education will be highlighted. The analysis of the interviews discussed by gender, generation category of the students reveals the social representations of the interviewed on the dynamics of the family in the school education of the children. The data highlights he image of the organizational culture of the family at distance and education in contemporary Angola. These interviews are part of an original dataset on transnational childcare, collected under the TCRAf-Eu Project in Angola / Portugal context.

Cómo citar
Grassi, M., & Marinho, L. (2019). Mobilidade familiar e contexto escolar – o olhar dos educadores escolares angolanos. Collectivus, Revista de Ciencias Sociales, 6(1), 251-276. https://doi.org/10.15648/Coll.1.2019.14

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Recibido: 20/09/2018

Aprobado versión definitiva: 21/11/2018


MOBILIDADE FAMILIAR E CONTEXTO ESCOLAR – O OLHAR DOS EDUCADORES ESCOLARES ANGOLANOS


MOVILIDAD FAMILIAR Y CONTEXTO ESCOLAR. LA MIRADA

DE LOS EDUCADORES ESCOLARES ANGOLEÑOS


FAMILY MOBILITY AND SCHOOL CONTEXT. THE LOOK OF ANGOLEÑOS SCHOOL EDUCATORS


Marzia Grassi*

Luena Marinho**


DOI: http://dx.doi.org/10.15648/Coll.1.2019.14


RESUMO

A mobilidade humana produz mudanças nas diversas esferas da vida dos indivíduos incluindo as suas relações familiares à distância. Novas formas de manter a ligação entre membros da mesma família dão origem a modos diferenciados de conjugalidade, parentalidade e cuidados aos membros mais vulneráveis como as crianças. A partir de entrevistas realizadas em Angola, junto de profissionais da educação, nomeadamente professores e diretores de escolas, este artigo procura destacar as representações desses profissionais sobre os efeitos da distância geográfica entre pais e crianças/jovens/alunos.

Será realçado os impactos da separação dos pais é das crianças em termos de aproveitamento escolar e educação. A análise das entrevistas argumentadas por género e categoria social dos alunos revela as representações sociais dos educadores escolares sobre as dinâmicas familiares e os seus efeitos na educação escolar das crianças e devolve-nos uma imagem da cultura organizacional da família à distância e da educação na Angola contemporânea que parece considerar a mobilidade humana maioritariamente nas suas consequências negativas para a educação das crianças. As entrevistas fazem parte de um conjunto de dados originais recolhidos junto de observadores privilegiados do grupo alvo de um projeto do ICS-UL (Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa) no contexto migratório Portugal/Angola, sobre cuidados transnacionais a crianças.

Palavras-chave: mobilidade, família, Angola, crianças/jovens, educação.


RESUMEN

La movilidad humana produce cambios en las diversas esferas de la vida de los individuos, incluyendo sus relaciones familiares a distancia. Nuevas formas de mantener el vínculo entre miembros de la misma familia dan lugar a modos diferenciados de conyugalidad, parentalidad y cuidados a los miembros más vulnerables como los niños. A partir de entrevistas realizadas en Angola, junto a profesionales de la educación, en particular profesores y directores de escuelas, este artículo busca destacar las representaciones de estos profesionales sobre los efectos de la distancia geográfica entre padres y niños / jóvenes / alumnos.

Se resaltar los impactos de la separación de los padres hacia los niños en términos de aprovechamiento escolar y educación. El análisis de las entrevistas argumentadas por género y categoría social de los alumnos revela las representaciones sociales de los educadores escolares sobre las dinámicas familiares y sus efectos en la educación escolar de los niños y devuelve una imagen de la cultura organizacional de la familia a distancia y de la educación en Angola contemporánea que parece considerar la movilidad humana mayoritariamente en sus consecuencias negativas para la educación de los niños. Las entrevistas son parte de un conjunto de datos originales recogidos de observadores privilegiados del grupo objetivo de un proyecto SCI-UL (Instituto de Ciencias Sociales, Universidad de Lisboa) en el contexto migratorio Portugal / Angola el cuidado transnacional para los niños.

Palabras clave: movilidad, familia, Angola, niños / jóvenes, educación






ABSTRACT

Human mobility has implications on several spheres of individuals' lives and their relations at a distance. The new ways of maintaining a link between family members create different types of conjugality, parenting and care for the most vulnerable members such as children. Grounded in interviews with students in Angola, with education professionals – professors, school management, and others, this article aims to access the social representations of these professionals regarding the impact in their students of geographical distance between parents and children/students.

The impact in terms of school achievement and education will be highlighted. The analysis of the interviews discussed by gender, generation category of the students reveals the social representations of the interviewed on the dynamics of the family in the school education of the children. The data highlights he image of the organizational culture of the family at distance and education in contemporary Angola. These interviews are part of an original dataset on transnational childcare, collected under the TCRAf-Eu Project in Angola / Portugal context.

Keywords: mobility; family; Angola; children / youth; education.


  1. Introdução

O projeto (TCRAf-Eu-2010-ICS-ULisboa-545) - que tornou possível a recolha de dados que estruturam a análise que se segue financiado pelo Programa Norface da União Europeia - é parte de um consórcio que estuda de forma comparativa em diferentes contextos africanos e europeus a ligação entre mobilidade e família. As entrevistas tiveram lugar em Luanda e no Lobito (Angola) e surgem na sequência da administração do inquérito nas escolas onde se verificou a necessidade de aprofundar conhecimento sobre a situação das crianças TCRA1.

Não existe uma definição uniforme e universalmente aceite da família enquanto conceito socio-antropológico. Estudar a família em Angola no contexto da mobilidade contemporânea tem que ter em conta o fluxo importante de migração para Portugal em particular de jovens que procuram completar a própria educação superior e/ou formação profissional que aspiram a obter as qualificações de uma universidade europeia que facilitam o trabalho também na Europa. Por outro lado, a definição de família em Angola tende muitas vezes a incluir membros não consanguíneos. A vivência em família alargada é a mais comum, sendo uma prática que para além de estar enraizada na cultura bantu, conta também com os condicionalismos provocados pelo conflito armado que devastou o país durante 27 anos e que, especialmente em Luanda, resultou da migração para o meio urbano e encaminhou as famílias para uma readaptação do modelo familiar de extenso para alargado (Rodrigues 2004).


  1. Família e mobilidade dos pais

Tendo como ponto de partida a mobilidade e as questões que a relacionam com a família, nomeadamente a readaptações e restruturações que lhe estão inerentes quer em termos de conjugalidade, de parentalidade ou de prestação de cuidados, interessa aqui ter em conta as perceções que os professores/profissionais da educação possuem relativamente ao impacto das mesmas nas crianças/alunos. A relação de proximidade entre estes profissionais e as crianças/alunos confere-lhes um conhecimento sobre as suas vivências e efeitos quanto ao seu desempenho escolar, quer em termos de resultados escolares alcançados (aproveitamento/ não aproveitamento), quer em termos de comportamento (a conduta da criança/jovem, o seus modos de estar que pode sofrer alterações, por exemplo a falta do progenitor pode levar a criança a adotar uma postura mais ausente, mais distraída, menos focada nas aulas ou até mais agressiva.

Interrelacionar o conceito de família com os efeitos da mobilidade humana dos seus membros torna-se central na globalização contemporânea uma vez que as formas de convivência em grupos familiares operacionalizam também as formas como os seres humanos percebem o mundo. Estas mudam nas diferentes geografias e períodos históricos (Moscovici 2011,55). Na realidade contemporânea em que a comunicação é acessível à maioria das pessoas em tempos e tecnologias inovadoras, as formas de família complexificam-se. A função de explicação da realidade social, mas também as funções de orientação das práticas sociais são explicadas por muitos atores sociais.


Figura 1. Modelo de análise

Fonte: elaboração própria.


Os profissionais da educação (professores, diretores e subdiretores de escolas, coordenadores de turno, etc.) tornam-se um grupo de atores privilegiados na avaliação dos efeitos da migração no aproveitamento escolar dos alunos que vivem separados de pelo menos um dos seus progenitores. Eles têm um lugar de observação direta dos modelos diversificados de conjugalidade, parentalidade e de cuidados, que emergem nas famílias apontando pistas para aprofundar o conhecimento dos efeitos da migração nas relações familiares e na educação das crianças.

Os dados deixam transparecer que os membros da família transnacional angolana permanecem envolvidos após a migração de uma das partes e que estabelecem Acordos Transnacionais de Criação de Crianças (TCRA). Isto acontece num contexto em que a migração para Portugal de um dos elementos do casal muitas vezes acaba por, a médio/ longo termo, representar uma rutura da relação conjugal.

A maioria dos inquiridos já não se encontram numa relação conjugal com o outro progenitor que ficou em Angola (a mãe da criança na maior parte dos casos). Atendendo as estas recomposições e reorganizações das famílias, Marzia Grassi e Jeanne Vivet referem-se a elas como “famílias Patchwork”, apontando para “o surgimento de uma família transnacional específica, uma família de retalhos, em que a conjugalidade parece ser uma estrutura crucial para entender as relações parentais à distância”. (2014: 5)

A comunicação e o acompanhamento à distância passam a ser as principais formas de participação na vida da criança que permanece no país de origem do migrante, revelando-se como formas de cuidar transnacionalmente. Destacam a relevância que a comunicação desempenha nas famílias transnacionais e o seu contributo na conservação de laços e afetos (Grassi et al. 2016). A intensidade, frequência e variedade de assuntos abordados vai influenciar o nível de proximidade afetiva existente entre a criança e o progenitor ausente e o equilíbrio psicossocial da criança.


  1. Contexto geográfico

As entrevistas foram realizadas em três cidades angolanas, a saber: Luanda (capital), Benguela e Lobito. O fato de se terem realizados os inquéritos no âmbito do projeto acima referido em escolas destas províncias, motivou a escolha das mesmas para efetuar as entrevistas com os professores e outros profissionais da área da educação com os quais contactamos.

As cidades correspondem as principais áreas de origem dos migrantes antes da migração para Portugal. De referir que são também áreas onde atualmente se encontram bastantes portugueses que fugindo à crise económica migraram para Angola. Tanto a província de Luanda, como a província de Benguela (da qual o município de Lobito faz parte), são importantes centros portuários de desenvolvimento comercial e económico de Angola, que permitem a exportação da produção da região.


  1. Metodologia e métodos complementares

Quer o inquérito qualitativo TCRAf, que tinha servido de suporte à organização do guião de entrevistas qualitativas, quer a análise destas últimas pretendiam comparar resultados de educação, saúde e bem-estar emocional de estudantes/crianças que vivem em famílias transnacionais com aqueles de estudantes/crianças que não vivem em famílias transnacionais. O inquérito apresentava cerca de 190 indicadores relacionados com a estrutura familiar, as características socioeconómicas, o desempenho educacional, a saúde e bem-estar emocional, procurando identificar os diferentes tipos de arranjos familiares das crianças em Angola, aferindo os fatores que determinam os diferentes tipos.

As entrevistas semiestruturadas foram realizadas junto de 40 profissionais da educação, decorrendo num período de quatro meses em escolas de tipologia diversa (públicas, comparticipadas e privadas) em Luanda, Benguela e Lobito.

Foi desenvolvido um guião de entrevista que serviu de suporte à realização das mesmas, e que contempla questões de caraterização geral dos alunos (bairro de proveniência, principais dificuldades sociais; nível de aproveitamento, etc.), que permitem efetuar uma breve caraterização das suas famílias: nível socioeconómico, dimensão dos agregados e também outras questões especificas sobre alunos que não vivem com pelo menos um dos progenitores.

Os professores/diretores das escolas são interlocutores privilegiados pois têm um conhecimento das diversas situações problema que afetam os alunos. A par disso são também eles que muitas vezes identificam alterações de comportamento que podem indiciar que a criança/ aluno não está a lidar bem com determinada situação (coping), e lhes dão apoio psicossocial.

O quadro 1 apresenta as categorias profissionais relacionadas com a função desenvolvida pelos entrevistados, sendo visível que a maioria dos entrevistados são professores, seguidos de diretores de escola e de coordenadores/responsável pedagógico.


Quadro 1. Categoria profissional do entrevistado


Função

N

 

Professor

16

 

Diretor

10

 

Coordenador/responsável pedagógico

5

 

Subdiretor

3

 

Coordenador de turno

3

 

Coordenador de 1º ciclo

2

 

Coordenador de atividades extracurriculares

1

TOTAL

 

40

Fonte: projecto TCraf-Eu/2009/ICS/545, Grassi 2016.



    1. O panorama escolar

Num panorama escolar em que continuam a existir múltiplos desafios, nomeadamente a falta de escolas (sobretudo de ensino secundário), o elevado número de crianças que não frequenta o ensino, uma considerável taxa de analfabetização, falta de professores qualificados; importa salientar que também o sistema de ensino foi bastante afetado pela guerra civil que destruiu um grande número de escolas, enfraquecendo as infraestruturas escolares e não investindo no setor da educação. Por outro lado, foram criadas escolas privadas (permitidas a partir de 1992 - decreto nº 21/91). As Escolas particulares atenuam a falta de escolas públicas e segundo os dados do INE (2010) integram 17% de todos os alunos, a maioria encontra-se em zonas urbanas sobretudo na capital - Luanda. De entre as principais dificuldades provocadas pela guerra no sector da educação, salienta-se a existência de uma taxa de alfabetização era baixa uma vez que mais da metade das crianças entre 5 e 18 anos não frequentavam a escola, sendo as que viviam em áreas rurais eram menos propensas a ir à escola do que as viviam em áreas urbanas ou adjacentes, sendo também comum o abandono escolar precoce; a par da parca qualificação profissional dos professores - 51% dos professores tinham apenas 6 a 8 anos de escolaridade e a maioria não tinha formação profissional (Unicef, 1998).

Contudo com a paz verificou-se uma mudança e uma maior aposta no setor da educação, verificando-se um investimento do governo na educação procurando colmatar os deficits provocados pelo período de conflito. A promulgação da Lei do Sistema Educativo (Lei 13/01), que incluía o desenvolvimento da Educação e Ensino Superior em Angola para o período 2002-2008. Estratégia Integrada para a Melhoria do Sistema Educativo e do Plano Nacional “Educação para Todos” para o período 2001-2015. Para além da edificação de escolas, de fomentar a frequência escolar (em especial ensino primário), existiu também um esforço na alfabetização de adultos. Em 2010 a proporção de analfabetos em Angola era de 34% (com uma grande desvantagem para as mulheres - quase metade da população feminina é analfabeta (INE, 2010), tendo baixado para 24,7% em 2017.

Segundo o indexmundi (2015) Angola apresenta uma Taxa de alfabetização de 71,1% (homens: 82% e mulheres: 60,7%). As mulheres continuam a encontrar mais obstáculos em aceder ao sistema de ensino, seja por dificuldades em pagar as matriculas (no caso de famílias numerosas com poucos rendimentos), por inexistência de escolas na proximidade, ou por serem necessárias para desempenhar trabalho doméstico e prestação de cuidados a outros, as meninas acabam por entrar no sistema de ensino mais tardiamente, sendo também retiradas do mesmo mais facilmente.

Os números continuam desfavoráveis às mulheres também no que se refere à educação de adultos. De acordo com o Relatório Social de Angola (UCAN-CEIC, 2015:115) "As mulheres são, ainda, as que em menor número fazem parte das turmas de alfabetização em todo o país. Nas áreas rurais, onde sobretudo razões culturais estão na base dessa ausência, em função da predominância da ordem patriarcal, apenas 37,3% das mulheres entre os 20 e os 40 anos sabem ler e escrever, contra mais de 80% das áreas urbanas".

O sistema educativo em Angola baseou-se no sistema português. Existem três divisões principais no sistema escolar atual: Escola Primária – que integra os anos escolares da 1ª à 6ª classe; o Primeiro Ciclo do Ensino Secundário: da 7ª à 9ª classe; e o Segundo Ciclo do Ensino Secundária, anteriormente denominado por Ensino médio, abarcando a 10ª, 11ª e 12ª classes.


Relativamente aos tipos de escolas, onde foram efetuadas as entrevistas, elas abarcam a realidade educativa angolana, incluído escolas de tipologia diversa, nomeadamente escolas públicas, escolas privadas (colégios) e escolas comparticipadas. Estas últimas são escolas privadas (onde os alunos fazem uma comparticipação de acordo com as suas possibilidades/rendimentos), que têm professores que fazem parte dos quadros estatais a leccionar. O Estado paga salários aos professores que trabalham nas escolas comparticipadas e às vezes disponibiliza as instalações, carteiras e outras condições necessárias para o processo de ensino.

A maioria das escolas que integraram o estudo possuem um carácter público, contudo o número de escolas privadas incluídas é também de salientar (próximo dos 50%).


Figura 2. Tipos de escola

Fonte: projecto TCraf-Eu/2009/ICS/545, Grassi, 2016.


Importa salientar que as opiniões dos entrevistados variam de acordo com o tipo de escolas. De facto, os professores relatam a existência de mais dificuldades nas escolas públicas, existindo o entendimento de que estas “¡são para os pobres!”, como se pode depreender deste excerto da entrevista 22: “bem quando se fala em escola estatal, vê-se que as prioridades são as famílias de baixa renda, e no nosso contexto eu vejo que as famílias são de baixa renda” [Professor, escola pública, Luanda, entrevista 22].


De acordo com os profissionais de educação entrevistados a escola pública apresenta alunos mais diferenciados, relativamente as diferentes categorias sociais sendo referido por vezes “temos alunos de todas as classes”, tratando-se de um tipo de escola mais inclusivo.

Existe uma diferenciação bem marcada quanto aos utilizadores dos estabelecimentos de ensino, que é condicionada pelas condições socioeconómicas das famílias. Esta está patente nas palavras do entrevistado 39:

o que se supõe para os colégios em Luanda e em Angola é que os alunos que estão connosco são de média ou alta renda, mas agora as pessoas de média renda começam a ter os seus filhos também nos colégios. A maioria são filhos de famílias de média ou alta renda. De baixa renda vão nas escolas estatais porque não têm de pagar pelo ensino. [Professor, escola privada, Luanda, entrevista 39].


    1. Caracterização dos alunos

De seguida passamos a caracterizar os alunos a partir das palavras dos profissionais da educação entrevistados

No que concerne a categoria social dos alunos, os professores referem que a maioria dos alunos pertencem à classe média/baixa. Este dado explica-se com o facto da maioria das escolas onde foram efetuados os inquérito e entrevistas serem escolas pública que têm um acesso menos oneroso.

Nas figuras 3 e 4, pode-se observar, respetivamente o nível socioeconómico dos alunos (figura 3) e ao tipo de escola frequentado pelos alunos (figura 4).










Figura 3. Nível socioeconómico dos alunos (categorias sociais)

Fonte: projecto TCraf-Eu/2009/ICS/545, Grassi, 2016.


    1. Dificuldades do contexto de caracter geral

No que diz respeito à caracterização geral dos alunos, os professores apontam para a existência de dificuldades na vida dos seus alunos. Os principais transtornos seriam relacionados com a questão dos transportes (acessos difíceis, morosidade, escassez): “é carência de transporte em Luanda faz com que muitos deles atrasem. Transporte é o maior problema que se verifica com os nossos alunos.” [Professor, escola privada, Luanda, entrevista 13].

Também é relatada a carência alimentar. Na opinião de um entrevistado as dificuldades que eles enfrentam mais é mesmo a questão da alimentação (...) porque a maior parte dos encarregados de educação não tem emprego fixo, trabalham na sua conta própria, a maioria das senhoras são zungueiras e as receitas que eles conseguem, não conseguem sustentar devidamente os filhos. [Professor, escola pública, Luanda, entrevista 12]


Na figura 4 é possível observar os principais problemas sociais identificados e atribuídos pelos professores aos próprios alunos.

No conjunto das entrevistas destaca-se a questão do transporte (N=18); a falta de material didático (n=15), nomeadamente dos manuais escolares e outro material como esquadros, compassos, réguas, etc. material específico para determinadas aulas, tendo sido também referidas as condições das batas (estado, limpeza), cujo uso é obrigatório nas escolas públicas; ainda a alimentação (N=9) é novamente mencionada como problemática para grande parte dos estudantes; e também a falta de acompanhamento dos pais (N=2) é apontada como um dos problemas que afetam os alunos.

É ainda de salientar que seis dos entrevistados não consideram que os seus alunos tenham qualquer problema social – estes entrevistados correspondem a população docente de colégios privados.


Figura 4. Problemas sociais dos alunos

Fonte: projecto TCraf-Eu/2009/ICS/545, Grassi, 2016.


    1. Escola, aproveitamento escolar e mobilidade dos pais

Os relatos dos profissionais da educação levam-nos a considerar que há uma relação negativa entre a migração parental e os resultados escolares das crianças, contudo também sugerem que esta pode ser colmatada com um bom acompanhamento escolar, como se poder entender nas palavras do entrevistado 5:

sei que há meninos que tem os pais fora do país, mas se têm acompanhamento bom de um tio uma tia ou uma avó então o menino orienta-se, trabalha. Mas se não tem esse acompanhamento é muito difícil educar, e que eles queiram aprender é muito difícil” [Diretora, escola comparticipada, Luanda, entrevista 5].




Contudo, de acordo com os dados do inquérito, e comparativamente aos outros países em estudo (Nigéria e Gana) verificou-se que no caso das crianças angolanas a distância e a migração do progenitor aparentemente não afeta o desempenho escolar da criança (Cebotari e Mazzucato 2016). Esta ausência de impactos foi também referida pelas crianças entrevistadas no mesmo período do inquérito (Marinho, 2014). Este último estudo realizado com crianças angolanas com pais migrados em Portugal revela que a escola e o desempenho escolar são um dos assuntos mais abordados pelos progenitores ausentes nas conversas/comunicações que mantêm com os seus filhos, que assim procuram acompanhar esta área da vida da criança.

Importa destacar também o lado emocional que decorre dos processos migratórios, como refere Zlatko-Skrbis (2008), que ao analisar a literatura sobre famílias transnacionais verificou que as emoções se constituem como parte da própria experiência transnacional familiar. Os laços emocionais ligam o indivíduo à família e toda a experiência migratória está imbuída de emoções como nostalgia, sentimentos de perda, muitas vezes descriminação, etc. As comunicações entre os membros da família estão carregadas de emoções, seja tristeza, saudade, alegria, preocupação e desempenham um papel na migração transnacional, fazendo parte da vivência da família transnacional.

Assim, também o impacto emocional da migração pode afetar os resultados escolar dos alunos:


tem sempre consequência (...a migração) porque viver fora dos pais, crescer junto do pai e de repente o pai se ausenta, normalmente causa um estado emocional que pode afetar até o nível de aproveitamento, existem esses casos. [Professor, escola privada, Luanda, entrevista 6].


    1. A emergência do género na análise

As questões colocadas aos professores/profissionais da educação fazem emergir uma visão das diferenças de género naturalizadas pelas convenções sociais que tende a não dar importância às desigualdades existentes. A questão das desigualdades de género dentro da família e dos papeis socialmente e culturalmente atribuídos a homens e mulheres não parece emergir do discurso dos professores como um elemento importante a ter em conta e os relatos apontam para a reprodução dos estereótipos das estudantes mulheres como mais vulnerável, mais disciplinadas e obedientes ao mesmo tempo que os estudantes homens seriam mais inquietos e potencialmente mais violentos. Ao mesmo tempo os excertos das entrevistas que se seguem indicam a percepção dos entrevistados de uma mudança em curso que vê a mulher num papel mais emancipatório e igualitário em relação ao homem.

Relativamente às representações dos educadores escolares quanto ao impacto da migração no comportamento geral, de acordo com o género dos estudantes, os professores dão respostas diferenciadas existindo os que defendem que as meninas sofrem mais com a migração do progenitor:

tem mais impacto sobre as raparigas; rapazes conseguem dar a volta na situação mesmo vivendo fora dos pais” [Coordenador de turno, escola comparticipada, Luanda, entrevista 17];

Ao mesmo tempo que outros consideram que são os meninos os que mais ressentem a migração do progenitor. Neste caso a opinião é que os impactos nos meninos tendem a manifestar-se a través de comportamentos menos corretos:

mas o que eu verifico é nos rapazes, essa tendência é mais para o lado de comportamentos anormais (...) os rapazes por exemplo tendem mais a usar palavras grosseiras, falta de interesse mesmo demonstrando, chegando tarde às aulas ou ficando em algum canto da escola enquanto a sua sala está em aulas. As meninas são um pouco mais fechadas, são mais reservadas, preferem ficar isoladas. Mas de uma forma global o impacto é o mesmo [Professor, escola pública, Luanda, entrevista 16].


No que se refere ao aproveitamento escolar de acordo com o género da criança, parece passar-se a mesma situação de qualquer forma contraditória. Há professores que consideram que o aproveitamento escolar das meninas é melhor:

Noto há um bom tempo que as meninas geralmente são muito mais inteligentes, o nível de aproveitamento das meninas aqui nesta instituição é sempre melhor do que o dos rapazes. Os rapazes, não sei se é pelo facto de serem pré-adolescentes ou adolescentes, deixam-se levar muito pela brincadeira. As meninas têm melhor aproveitamento empenham-se muito mais. [Professor, escola privada, Luanda, entrevista 13]; como os que, pelo contrário, julgam que os estudantes de género masculino obtêm melhores resultados:


Os meninos são mais aplicados em relação às meninas. Não falta uma ou outra, mas os meninos são mais aplicados e têm melhor rendimento escolar. [Professor, escola pública, Luanda, entrevista 32].

De referir que se verifica um enaltecimento do empenho escolar feminino, que se justificaria através das alterações sociais que foram ocorrendo e que agora conferem às mulheres uma panóplia maior de papéis a representar.

nós temos estado a ver que as meninas se têm dedicado muito mais que os rapazes. O nível de aproveitamento das meninas tem sido maior do que o dos rapazes. Embora ainda os rapazes em percentagem sejam em maior n.º, mas o nível de aproveitamento das alunas e o próprio interesse tem sido maior (...) devido aos acontecimentos, a própria mudança do mundo temos observado esse fenómeno, não era um fenómeno normal. Não acontecia, até porque a educação que nós trazíamos a mulher não era para ser a Sr.ª fulana, mas era para estar em casa como as nossas mães. Mas de um tempo a esta parte as mulheres tem mostrado esse lado, um maior empenho mesmo em relação ao estudo. [Responsável Pedagógico, escola pública, Luanda, entrevista 25].


Os professores parecem estar cientes da existência de desigualdades de género que penalizam a educação escolar das meninas. A educação das meninas, na sociedade angolana, era tradicionalmente negligenciada em virtude de outras aprendizagens. Explica-se assim em parte o atraso escolar mais visível entre as meninas:

em relação ao atraso escolar, noto que algumas meninas com relação aos rapazes estão muito mais atrasadas, isso nas classes do 1º ciclo do ensino secundário: 7ª,8ª e 9ª, aí noto que em termos de idades existem mais meninas com maiores idades do que rapazes. [Responsável Pedagógico, escola privada, Luanda, entrevista 13].


A par do atraso escolar, esta questão explica-se na construção social que tende a desvalorizar a educação feminina e de qualquer forma a justificar implicitamente com a cultura. Nas palavras de um entrevistado, educador escolar:

Um dos fatores que eu noto é que em algumas famílias a educação do lado feminino é preterida, acha-se que a menina tem de ficar em casa para cuidar dos irmãos mais novos, então ela tende a atrasar-se mais do que outros. Outra situação é que algumas dessas alunas que nós temos nessa condição não vivem com os pais, vivem com familiares próximos. Os pais não têm grandes capacidades para meter a filha na escola então dá a filha a uma outra pessoa para criar, esta pessoa em vez de colocar no tempo devido na escola vai retendo a criança em casa para fazer trabalhos de casa e quando dá conta aquela criança está relativamente atrasada e vai-se colmatando essa situação colocando a criança numa instituição como a nossa onde a criança vai ter um acompanhamento adicional ao normal para poder recuperar. [Responsável Pedagógico, escola privada, Luanda, [entrevista 13].


Quando se quer analisar a perceção do impacto da distância parental de acordo com o género do progenitor ausente, verifica-se que a maioria dos professores entrevistados tendem a considerar que os efeitos são mais negativos quando a mãe é o progenitor migrante: “quando a mãe é que sai a situação fica mais complicada, porque normalmente a responsabilidade aos filhos é de ambos, mas se calhar a mãe chega a ser mais atenciosa do que o pai, então a ausência da mãe em casa cria maior dificuldade do que a ausência do pai”. [Professor, escola privada, Luanda, entrevista 6].

Esta perceção aparentemente está enraizada no maior peso social atribuído ao exercício da maternidade e aos deveres da mulher na família com este relacionado. Contudo, existem também aqueles que relativizam os impactos negativos de acordo com o género do progenitor migrante e consideram mais importante como fator explicativo a proximidade afetiva entre a criança e o progenitor:

é relativo, tudo depende da atenção de quem dá. Se o pai dá mais atenção então há mais inclinação ao pai, se a mãe dá mais atenção logo à mais atenção na mãe, então não podemos dizer que, mas prontos a mãe sobressai mais. Como mãe, já sabemos como é uma mãe, o amor é mesmo de mãe. Mas é relativo. [Professor, escola comparticipada, Luanda, entrevista 18].


Há ainda quem não considere que existe uma relação entre o aproveitamento escolar da criança e a ausência de um dos seus progenitores e que faça referência as práticas de vivência em família extensa:


Quando se pergunta: “- acha que quando o pai ou a mãe vive fora tem um impacto sobre os alunos em termos de aproveitamento?


Há quem responda com muita determinação e generalização que:

- não tem, em África há pessoas a querer ficar com os tios e formam-se bem” [Subdiretor, escola privada, Luanda, entrevista 30].


A perceção dos professores relativamente ao progenitor migrante é de que este é sobretudo o pai da criança. Em geral, e independentemente de a migração ser a causa da ausência, os pais são considerados pela maioria dos entrevistados os elementos que mais se ausentam do agregado familiar. Nas palavras dos inquiridos:

é mais o pai. Eles (as crianças) vivem mais normalmente com a mãe. Alem dos casos de pais que vivem fora do país é predominante os pais separados, muito, muito, muito. Mas quando há separação dos pais porque um foi trabalhar normalmente é o pai que vai trabalhar para fora do país. [Diretora, escola pública, Luanda, entrevista 7].


mais o pai. É sabido que o africano é por natureza polígamo, não quer ter só uma mulher, então tem 2, 3 mulheres. Mas também temos as questões: o pai faleceu, a mãe faleceu e daí essa situação. E há aquelas vezes em que há separação. [Responsável Pedagógico, escola privada, Luanda, entrevista 13].


Temos alunos que vivem com os pais separados. Uns vivem só com a mãe, outros com o pai, outros com os tios e avós (...) quem está fora de casa é mais o pai. [Coordenador de Turno, escola comparticipada, Luanda, entrevista 17].


Na generalidade das entrevistas considera-se que a separação entre pais e filhos tem influência negativa no comportamento das crianças, que se manifestam através de estados de ansiedade que evidenciam falta de apoio (emocional e psicossocial) e que se revelam em termos de aproveitamento escolar e, às vezes, na adoção de comportamentos delinquentes:

tem mais impacto sobre as raparigas; rapazes conseguem dar a volta na situação mesmo vivendo fora dos pais, conseguem encontrar um empregozinho de mecânica e dá a volta à situação, e as meninas não. Da parte das meninas é um pouco mais doloroso, porque as meninas têm muitas necessidades e elas em si não conseguem satisfazer essas necessidades, não trabalha, não tem o pai ao lado para lhe ajudar, não tem mãe, então ela a todo o custo procura satisfazer essas necessidades, cai na prostituição, e aí na prostituição conseguem sobreviver, enquanto os rapazes não, os rapazes procura dar no duro para conseguir. Agora também muitos desviam-se, já entram pelo mundo da droga, da delinquência, mas alguns que conseguem buscar o conselho de um amigo, de um colega de escola, conseguem encontrar um emprego. [Coordenador de Turno, escola comparticipada, Luanda, entrevista 17].


E ainda:

A separação dos pais tem estado a influir bastante no comportamento dos filhos, mas de forma negativa. Filhos de pais separados, muitos deles são nervosos, zangados, tristes, porque há isso, aquilo, devia pedir no pai se estivesse presente, mas o pai não está e então, mostram assim esses problemas. Isto tem sido a influenciar bastante no aproveitamento do aluno (...) a ausência do pai ou da mãe tem sempre um impacto numa criança, num adolescente, principalmente porque quando a criança deseja alguma coisa, deseja desabafar alguma coisa com o pai ou com a mãe, estes não estão presentes. [Professor, escola privada, Luanda, entrevista 40].


    1. Modelo de família: pais e avós

No que se refere ao modelo de família, as narrativas dos entrevistados levam-nos a identificar que este se encontra assente na família patriarcal. Verifica-se a menção ao papel do pai como breadwinner e da mãe como cuidadora, onde as figuras parentais surgem com papeis distintos e bem definidos em várias áreas, no qual o pai é o elemento disciplinador e que presta suporte financeiro e a mãe o elemento frágil, encarregue de prestar cuidados e apoio emocional. Nos excertos de entrevista:

porque a fragilidade do amor da mãe não vai conseguir combater as eventuais má-criações, mudanças de comportamento que puderam existir nesta criança. Então aí o pai terá de estar presente porque como se diz na gíria Angolana, “a mãe é papa mole, o pai é ferro quente”, e precisa-se do ferro quente no período necessário em que tem havido mudanças comportamentais, físicas no corpo humano. [Coordenador de atividades extraescolares, escola privada, Luanda, entrevista 3].


e o quê é que acontece se o filho está em casa da avó, os avós não são muito dados a educar porque os avós existem mais para dar mimo não para dar educação (...) as crianças precisam de alguma regra e as vezes o pai tem de ser um bocadinho rígido. Não ditador, mas um bocadinho rígido na aplicação da lei na criança porque a criança também tem deveres. [Diretor, escola privada, Luanda, entrevista 35].


Parece existir também uma relação entre a fase de vida da criança e a importância do progenitor na sua vida. Assim, na infância a mãe teria um papel mais relevante na vida da criança prestando-lhe cuidados básicos essenciais, ao passo que a presença do pai numa fase mais tardia da vida da criança (adolescência) é considerada fundamental para que a mesma tenha um comportamento adequado. O próximo excerto de entrevista exemplifica desta forma:

Seria mais fácil na fase da infância o pai ser afastado da criança do que a mãe, porque provavelmente a presença do pai, tendesse mais é com a assistência financeira, mais a criança precisa do amor e do carinho da mãe, enquanto um infante isso quer dizer (...) Até ao princípio da adolescência, até aos 12 anos. E quando começa a adolescência aí o pai, obrigatoriamente tem de estar presente. [Coordenador de atividades extraescolares, escola privada, Luanda, entrevista 3].







    1. Quando a ausência não depende da migração: mulheres chefes de família

A par da migração outro fenómeno parece ter influência na ausência da co-residência entre a criança e os seus progenitores. Trata-se do crescente número de ruturas conjugais – separações/divórcios, que afetar o comportamento das crianças, podendo influenciar o seu aproveitamento escolar. O excerto abaixo espelha a opinião de um dos entrevistados face ao impacto do fenómeno nos seus alunos:


70% dos nossos alunos são filhos de pais separados (...) as consequências imediatas são comportamentais, e são de aproveitamento escolar porque por vezes elas não conseguem ter um aproveitamento escolar satisfatório porque os fatores comportamentais não o permitem. A criança é recalcada, revoltada, torna-se agressiva, é rebelde e mesmo tendo uma grande capacidade intelectual ela prefere ignorar porque ela quer ferir a família e a escola (...) penso que dos dois lados, mas principalmente os rapazes sofrem mais. As meninas conseguem embora as vezes com alguma dificuldade, ver as coisas de forma mais “positiva. [Professora e assessora do conselho pedagógico, escola privada, Luanda, entrevista 27].


Apesar da imagem do pai -breadwinner – responsável pela subsistência, o que se verifica é que este é por norma o elemento que se ausenta do núcleo familiar, seja por migração ou por separação conjugal.

Os professores entrevistados no seu discurso parecem ignorar a tendência descrita no IBEP e nos Censos 2014 de que apesar dos agregados íntimos em Angola serem chefiados predominantemente por homens (de acordo com os dados do IBEP (2011), contudo “mais de um em cada cinco agregados familiares em Angola são liderados por mulheres, estando desproporcionalmente distribuídos pelo país, concentrando-se sobretudo em Luanda e nas províncias do Centro Sul; refere ainda que concentram entre 8% e 13%” (IBEP 2011, 14).

As mulheres chefes de família encontram-se na maioria separadas, divorciadas ou viúvas. A par do número de agregados encabeçados por mulheres importa também destacar o papel das mesmas na economia informal; a mulher desempenha na sociedade um papel de provedora, adotando um papel ativo e autónomo. Há trabalhos que destacam a Intervenção das mulheres na economia urbana, salientando que os centros urbanos tornaram as mulheres mais audaciosas e dotadas de novas possibilidades, referindo que se estas “se virem em dificuldades, poderem deitar a mão a novas formas de angariação de recurso para fazer face à sobrevivência da família” (Frias Piepoli 2005, 16; Grassi 1997 e 2003, Afonso, 2006 e 2011).

De acordo com Grassi et al (2016, 113) o “retrato das famílias angolanas que emerge dos inquéritos é, como vimos, particularmente complexo e bastante difuso na África subsariana. Contrariamente ao retrato da família transnacional com um pai de família que garante o «ganha-pão» num país da Europa para sustentar a mulher e os filhos que ficaram no país de origem (Barou 2001), entre os inquiridos há poucos casais envolvidos nesta situação. Pelo contrário, há uma percentagem elevada de famílias em que o pai migrou para Portugal, tendo filhos tanto em Angola como em Portugal e que já não mantém uma relação com a mãe do(s) primeiro(s) filho(s).” O término da relação conjugal com a progenitora da criança que ficou em Angola implica uma reorganização da gestão dos cuidados transnacionais com o progenitor e/ou cuidador dos filhos que ficaram em Angola.

Apoiando-se nos dados do inquérito efetuado junto de pais migrantes, Marzia Grassi e Jeanne Vivet referem que a grande maioria dos migrantes com as crianças em Angola são homens, o que acaba por favorecer arranjos de cuidados transnacionais onde se reproduzem evidentes diferenças de género.

As autoras salientam ainda que “em relação aos papéis de género, a família transnacional entre Angola e Portugal marca uma rutura institucional com a visão tradicional de género, não só́ porque conduz a uma redistribuição e negociação da divisão sexual tradicional do trabalho dentro da família, mas também porque altera a forma como os pais vivem nos respetivos países e interagem sobre os cuidados institucionais dos filhos (Grassi e Vivet 2015, 99).


    1. A importância dos cuidadores: avós e irmãos mais velhos

No caso de a criança não residir com nenhum dos seus progenitores, ou se encontrar em acolhimento informal, na maioria dos casos residem com familiares (avós, tios, irmãos).

A escolha do elemento da família a quem deixar a criança parece fundar-se no tipo de relação (proximidade, confiança) entre o migrante e a família; a opção por deixar a criança/jovem ao cuidado de um tio pode-se considerar estar inscrita na tradição da organização da família matrilinear e matrifocal como acontecia na sociedade tradicional e ainda acontece, em especial, fora das áreas urbanas.

Na perceção dos professores os melhores cuidadores das crianças que residem longe dos seus progenitores são os avós:

De longe são os avós, (...os melhores cuidadores…) porque os tios não dão muito interesse alguns por não serem os seus filhos, e afastam-se um bocadinho, os irmãos alguns são estudantes e nem sempre têm tempo, os avós muitos são indivíduos da 3ª idade e aposentados e tem muita disponibilidade para tratar todo e qualquer assunto que tenha a ver com a educação dos netos. [Professor, escola privada, Luanda, entrevista 13],


Contudo os irmãos mais velhos também são tidos como bons cuidadores: “Os irmãos mais velhos cuidam melhor e os avós chegam a cuidar melhor que os irmãos e melhor que os tios, portanto primeiro os avós depois os irmãos, depois os tios e outras pessoas” [Coordenador de atividades extraescolares, Luanda, entrevista 3].

Os professores tendem ainda a considerar que os cuidadores realizam um acompanhamento diferente de acordo com a sua relação com a criança, considerando que na maioria das vezes o acompanhamento efetuado pelos tios tende a ser displicente, na medida em que estes possuem os seus próprios filhos que priorizam face á criança que estão a cuidar. Também a falta de tempo, e muitas vezes de maturidade dos irmãos mais velhos condiciona o acompanhamento que estes prestam. Assim, o melhor acompanhamento escolar é ministrado pelos avós que devido à sua experiência e saber entende a importância da escola na vida da criança, e à maior disponibilidade de tempo para incentivar, ajudar e comparecer na escola caso seja necessário. No entanto, e, não obstante de serem considerados os melhores cuidadores, os avôs não são considerados por todos os professores como os melhores encarregados de educação. Há quem considere que no papel de encarregado de educação os avós não são os mais eficientes, pois tendem a dar muitos mimos à criança.

A residência e o facto de a criança/jovem se encontrar a cargo de um cuidador não implica necessariamente piores resultados escolares ou maiores dificuldades. De salientar ainda que a vivência o acolhimento informal em família alargada está fortemente enraizado na cultura angolana sendo considerada como uma forma comum de criar os filhos (Øien 2006). Esta prática é também referida por Castle (1996, 193) que realça que “na África Ocidental, o acolhimento informal está enraizado na estrutura e filiações de parentesco e contrariamente à sua conotação ocidental, o termo não é necessariamente percebido como estando associado a famílias em alguma forma desconexas ou disfuncionais.”, isso mesmo está presente nas palavras do entrevistado:


em África há pessoas a querer ficar com os tios e formam-se bem, em África há essa coisa de passa a bola, não sei se entende o africano vive com o tio, vive com a avó vive com a mãe, vive em qualquer lugar, filho é basta ser filho de um primo ou irmão também é filho, então isso não se põe entre nós africanos. [Subdiretor, escola privada, Luanda, entrevista 30] e do entrevistado 35 “as vezes não é o pai e a mãe que deixam o filho, mas é o tio ou a tia que pedem o filho para ficar com ele está a ver?” [Diretor, escola privada, Luanda, entrevista 35].


    1. O tipo de migração (interna ou para europa)

Vários autores consideram que o tipo de migração do progenitor, bem como, a variação do elemento migrante (o pai ou a mãe) pode ter consequências distintas na vida das crianças (Parreñas 2008; Suarez-Orozco e Suarez-Orozco, 2001). A partida uma migração internacional tende a traduzir-se num período de afastamento maior, podendo a criança ter mais dificuldade em comunicar com o seu progenitor ausente, ou na realização de visitas. De acordo com o inquérito realizado nas escolas, a migração internacional do progenitor acaba por acarretar mais os efeitos negativos para o bem-estar das crianças do que a migração interna (Mazzucato et al. 2015).

De referir que a migração acaba por afetar a forma como pais e mães exercem a sua parentalidade e influencia o relacionamento com os filhos (Smith et al. 2004). A distância e a falta de uma vivência diária impõem aos progenitores ausentes o desenvolvimento de novas dinâmicas familiares e de modos alternativos de acompanhar, acarinhar, e de disciplinar fazendo-se “presente” na vida da criança. Estas estratégias de parentalidade à distância tendem a ser distintas de acordo com o género do progenitor (Grassi et al. 2016).

No que se refere ao impacto do tipo de migração do progenitor – internacional/transnacional ou interna (para outra região/ província), verificou-se que os entrevistados tendem a considerar que a situação ideal é a presença de ambos os pais, colocando a tónica na questão da separação e nas consequências que a mesma acarreta independentemente se é nacional ou internacional: “para uma boa formação de um estudante, deve haver um bom acompanhamento presente não pode haver distância, portanto não importa que seja numa outra Província ou num outro País, a importância é a separação” [Coordenador do 1º ciclo, escola privada, Luanda, entrevista 4].

Contudo, as entrevistas mencionam a existência de impactos no que se refere ao acompanhamento da educação da criança, em particular do seu desempenho escolar. Segundo os entrevistados a presença da figura paterna tende a assegurar um melhor rendimento e um maior afinco na realização das tarefas escolares, considerando que na ausência do progenitor os outros encarregados de educação tendem a facilitar e a não priorizar o desempenho escolar da criança/aluno.

tem impacto porque o nível de exigência do pai geralmente é superior, quando não é o pai, se for um tio, o tio tem os seus próprios filhos e não é comum ter os filhos em casa na mesma consideração, mesmo que este encarregado os tenha mas eles entre si, este que é sobrinho, que é primo dos outros com certeza está num grau de inferior, mesmo na lida diária, domestica, então isto há-de ter um impacto negativo ou positivo por causa das solicitações das tarefas lá em casa, às vezes ele tem de trabalhar mais, isso pode-lhe roubar o tempo ao estudo, se for preocupado com o estudo. Mas se não se for preocupado com o estudo o tempo que as tarefas domésticas absorvem, mais o tempo da brincadeira lá no grupo do bairro isso tudo vai em detrimento do aproveitamento escolar e não há ninguém ali por perto para lhe exigir mais. Os avós a tendência é mais dar facilidades, o nível de exigência também não é aquele de um pai. Há exceções, no caso dos avós há exceções, há avós que pela idade tem uma experiencia de vida diferente e não tem duvida que a escolarização é uma ferramenta muito grande cada vez de maior importância na vida de hoje. Há avós que não tem dúvidas em acompanhar o netinho à escola e esforça-lo nas tarefas académicas e subtrai-lo de algumas tarefas domésticas, para que ele não seja prejudicado para ele não ser igual a eles que não estudaram, mas gostaria de ver o netinho no patamar diferente” [Professor, escola pública, Lobito, entrevista 9].


Também afirmam que em termos comportamentais existem manifestações que podem indiciar a falta de acompanhamento próximo do seu progenitor: de uma forma geral quando os meninos não têm o acompanhamento dos pais nota-se qualquer coisa, realmente a nível de rapazes, acho que os rapazes são mais vulneráveis a maus comportamentos e então há sempre qualquer coisa que fica, porque os atos de indisciplina na sua maioria sempre que a gente chega ao fundo, não quer dizer que os que têm pai e mãe não sejam indisciplinados, mas em princípio.. [Responsável Pedagógico, escola pública, Luanda, entrevista 25].

De acordo com os profissionais da educação, a distância tem impacto na vida das crianças/alunos. Alguns dos professores referem que os impactos são diferentes e que um dos fatores que balanceia os mesmo é a comunicação, partindo da premissa que a migração interna permite contatos mais facilitados do que a migração externa:

bom, existe de facto uma diferença, existe diferença e nós podemos aqui conotar se calhar há mais facilidade de quem está na província entrar em contacto com o filho que está em Luanda, mas também vai depender da localidade desta província porque se estiverem separados, uma vez que os correios, os telegramas no nosso país não funcionam como deviam, então o único meio apenas de comunicação que existe é o telefone. Se estiver numa província há mais facilidade deste encarregado contactar o filho que está em Luanda do que quem está em Portugal (...) mas também isso vai depender do comportamento e da responsabilidade do próprio pai. [Coordenador de atividades extraescolares, escola privada, Luanda, entrevista 3].


Verifica-se a tendência para considerar que as crianças com pais no estrangeiro têm um menor acompanhamento no que concerne a prática escolar:

o aluno quando tem um encarregado no próprio país onde esta a estudar, há um grande acompanhamento em termo de estudo do seu filho, mas quando o seu encarregado esta no exterior, não há um grande acompanhamento nos seus estudos, por exemplo o filho pode ir a escola, quando o pai esta presente ele saberá que o filho foi a escola ou não, quando esta acompanhar bem, mas quando o pai esta no exterior dificilmente vai saber porque pode mentir : pai fui a escola mas o filho não foi a escola, essa é uma das diferenças. [Coordenador do 1º Ciclo, escola privada, Luanda, entrevista 4].


  1. Considerações finais

O estudo da mobilidade humana, em especial o que incide sobre os impactos na vida familiar, deve levar em consideração a perceção social e cultural da família, devendo esta ser analisada em função, entre outras, da classe social, do género e das gerações dos seus membros, em diálogo com a cultura organizacional do contexto.

Os relatos dos professores vêm mostrar que para além da migração, as ruturas conjugais acabam por ser uma importante causa da separação geográfica entre progenitores e crianças/ jovens, salientando a elevada parcela de alunos que possuem os pais separados.

O facto de a família alargada ser a forma predominante de vivência familiar em Angola, contribui para que não se verifiquem transtornos maiores às crianças, quando por via das circunstancias estas se vêm obrigadas a residir com outros que não os seus progenitores – acolhimento informal de outros membros da família (avós, tios, irmãos mais velhos). A mobilidade de um dos membros da família implica a adaptação a uma nova realidade – a da ausência, obrigando a uma reorganização das rotinas e papeis, sejam em relação à conjugalidade seja em relação à parentalidade. Os professores apontam para uma necessidade maior de acompanhamento tanto por parte do familiar que parte – que deve estar envolvido, comunicando frequentemente e acompanhando à distância; quer por parte do familiar que fica a prestar apoio e encarregue pela educação da criança.

Num contexto de dificuldades estruturais do acesso ao sistema escolar como aquelas referidas - são mencionadas situações gerais como a dificuldades de transportes relacionada com a oferta reduzida e a intensidade de tráfego rodoviário, ou questões relacionadas com a carência alimentar, bem como foram também apontadas dificuldades especificas da área educacional como a carência de material escolar (manuais, batas e outros) - a questão de género torna-se central e os professores referem a existência de desigualdades de género, enraizadas na cultura tradicional, que penalizam a educação escolar das meninas – sendo a sua educação formal descurada em virtude de outras aprendizagens. Quanto aos impactos nas crianças da distância parental de acordo com o género do progenitor migrante, a maioria dos entrevistados entendem que os impactos da migração na criança são maiores quando o progenitor ausente é a mãe e obedece ao modelo familiar patriarcal onde o pai é o provedor e a mãe a zelosa cuidadora da família.

Os professores também referem a importância da figura do cuidador atribuindo uma importância distinta de acordo com o familiar que ocupa a função. Assim, consideram que os melhores cuidadores são os avós, contudo muitos salientam que nem sempre estes são os melhores encarregados de educação pois tendem a dar demasiado mimo às crianças.

O tipo de migração também influi na intensidade dos impactos sobre a criança, os profissionais da educação entrevistados tendem a considerar que a migração internacional acarreta maiores impactos que a migração nacional, na qual segundo as suas narrativas se verifica uma possibilidade mais facilitadas de estabelecer contatos telefónicos e efetuar visitas menos esporádicas.

Finalmente, os impactos da migração ou separação conjugal que impliquem a separação geográfica entre progenitores e crianças, podem, de acordo com os professores inquiridos, ser minimizados com um acompanhamento constante por parte dos pais da atividade e vivência escolar, com incentivos e comunicação frequente.


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Para citar este artículo:

Grassi, M. y Marinho, L. (2019). Mobilidade familiar e contexto escolar – o olhar dos educadores escolares angolanos. Collectivus, Revista de Ciencias Sociales, 6(1), 251-276. DOI: http://dx.doi.org/10.15648/Coll.1.2019.14


* PhD Develpment Economics. Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, Investigadora auxiliar ICSULisboa, avenida Professor Aníbal Bettencourt, 9 - 1600-189, Lisboa (Portugal), mgb1235@gmail.com

** PhD Ciencias Sociales. Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, Investigadora, avenida Professor Aníbal Bettencourt, 9 - 1600-189, Lisboa (Portugal), luena.marinho @gmail.com

1 Crianças TCRA – crianças que vivem num arranjo transnacional de cuidados devido à migração de um dos seus progenitores. O conceito de criança definido pelo projeto TCRAf-Eu inclui indivíduos com idades compreendidas entre os 0 e os 21 anos. Para um aprofundamento desta questão ver Grassi et al., 2016.


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